Não lembro quando isso aconteceu, mas um dia eu tive a ideia de contar uma história que se passava no DCE.

A Boate do DCE foi um lugar muito icônico, mas não era só isso. Na verdade, aquele porão com paredes desenhadas era a materialização de uma fase marcante da vida. Começar a vida adulta, estudar em uma universidade, morar em uma nova cidade, fazer amigos, se apaixonar, quebrar a cara e se apaixonar de novo. Fazer parte de um grupo que acredita nas mesmas coisas, ouvir música em volumes prejudiciais à audição, beber quantidades de cerveja prejudiciais ao fígado e inalar uma quantidade de fumaça prejudicial aos pulmões, mesmo não sendo fumante. Hoje eu brinco dizendo que era um lugar insalubre. Mas, naquela época, era uma das melhores diversões que tínhamos nas noites de sexta.

Desde que tive as primeiras ideias para Um lugar do caralho, o tema que eu queria para a história sempre foi a nostalgia. Passei muito tempo cozinhando esta HQ. Não é fácil fazer quadrinhos, e talvez uma das coisas mais difíceis seja saber quando é o momento de sentar e colocar no papel aquela ideia que vem te perseguindo há tanto tempo.

Produzir uma HQ de mais de cem páginas é um desafio pelo qual eu não tinha passado ainda e exigiu um foco muito grande por um longo período. Exigiu segurar outras tantas ideias e projetos que surgiram pelo caminho. Por muito tempo foi um projeto independente e solitário.

Mas dois pontos de virada importantes envolveram a ajuda de outras pessoas: a entrada da editora hipotética e o projeto no Catarse. Foi uma grata surpresa ver que a ideia empolgou não só o Fabiano e a Iriz (a ponto de apostarem nesta HQ pra ser a primeira publicação da editora), como tanta gente que se interessou pelo financiamento coletivo. Fechamos o projeto do Catarse com quase 300 apoiadores, algo que eu nunca imaginei que aconteceria. A nostalgia, afinal, é o ponto central do projeto.

Uma das coisas mais legais da Boate do DCE é que a gente podia ir sozinho e sem dinheiro nenhum e voltar de lá de manhã, meio borracho, cheio de amigos e às vezes até com uns trocos de origem misteriosa no bolso.

Comecei esse projeto sozinho e sem saber como faria para colocar em prática, mas terminei com muitos amigos e recursos mais do que suficientes para financiar a produção. Só faltou tomar uma cerveja com essa galera toda. Levou um bom tempo, mas finalmente aquela ideia de contar uma história que se passa no DCE se concretizou. Espero que este quadrinho seja pra vocês uma viagem no tempo tão legal quanto foi pra mim ao produzi-lo.

Boa leitura!

Thiago Krening

Este texto foi publicado como uma das introduções à edição impressa de Um lugar do caralho.